17 de mai. de 2011

A BOA-NOVA DA RESSURREIÇÃO (Mt 28)


A visita ao túmulo passa-se de madrugada, onde o céu ainda está escuro, iluminado apenas pelo anjo, que brilha não pela sua natureza, mas sobretudo pela sua mensagem. As primeiras testemunhas não vêem Jesus ressuscitar do sepulcro, porque este acontecimento não podia ser presenciado: para Mateus, a ressurreição de Jesus transcende a história humana. O túmulo vazio não é uma prova da ressurreição, é antes um indício proposto à nossa fé na ressurreição. O anúncio do Anjo é uma revelação de Deus em pessoa no coração dos crentes. Jesus revela-se primeiro às mulheres, pois elas mantiveram-se fiéis, pois sempre acreditaram em Cristo. Ao verem Jesus, têm uma tripla reacção: aproximar-se, tocar-lhe, ajoelhar-se. Por fim, recebem uma missão renovada: anunciar aos discípulos que partam para a Galileia. Jesus refere-se aos discípulos como “irmãos”, apesar da fuga e das negações durante a Paixão: o Ressuscitado vai restaurar com os Seus uma relação fraterna. Mateus abandona o uso dos títulos de Rei, Filho de David, referindo-se apenas a Jesus, realçando esta intimidade entre o Filho de Deus e os crentes.

As mulheres vão ao sepulcro (Mt 28, 1-10)

(v.1) O primeiro dia da semana foi designado “dia do Senhor” ou Domingo. Maria de Magdala e a “outra Maria” - provavelmente, a mãe de Tiago e José (Mt 27, 56-61) - não iriam ao túmulo para ungir Jesus, mas visitar, segundo um costume judaico.
(v.2-7) O terramoto assinala uma teofania: surge o Anjo do Senhor, alguém que age com a mesma autoridade que o Senhor. Dá às mulheres, as primeiras testemunhas, a missão do anúncio da grande notícia da Ressurreição.
 (v.8) Mateus não descreve a ressurreição, mas apresenta antes os seus efeitos: temor e alegria. Mais do que testemunhar a própria ressurreição, o mais importante é o que esta muda no nosso interior. Jesus vem ao encontro das mulheres: o anúncio de Jesus tem no centro a Sua ressurreição, dado típico da pregação na Igreja primitiva.
 (v.9) O gesto das mulheres manifesta veneração ao Senhor. O gesto de “estreitar-lhe os pés” terá sido o de verificar a presença de Cristo, demonstrando que as mulheres não temiam Cristo ressuscitado, pois acreditaram.
(v.10) A missão que elas recebem confirma a missão dada pelo Anjo do Senhor. A Galileia representa voltar ao início, onde tudo começou, e que será o ponto de partida para o mundo.

Reacção dos inimigos de Jesus (Mt 28, 11-15)

Em oposição ao encontro das mulheres crentes, aparece o grupo dos que recusaram acreditar na Ressurreição de Jesus. O processo da fé recomeça: existem aqueles que aderem à Boa-Nova e aqueles que a recusam.
A narração destes versículos procura também contradizer a lenda do rapto do corpo de Jesus, posta a circular entre os judeus e que permanece ainda hoje.

Aparição na Galileia. Missão universal. (Mt 28, 16-20)

Este episódio recapitula as grandes linhas do Evangelho. Compreende duas etapas e uma conclusão:
1ª etapa - os discípulos obedeceram à mensagem anunciada pelas mulheres, indo para um monte indicado por Jesus (Mt 28, 16);
2ª etapa - ao ver Jesus, têm uma dupla reacção – veneração e dúvida (Mt 28, 17);
Conclusão -  em seguimento, dá-se uma declaração final de Jesus (Mt 28, 18-20).

(v.16) Não se sabe bem onde é o monte mencionado, apenas que é a Galileia, porque é lá que, como fez Jesus, se inicia a actividade na Igreja. Este monte recorda as tentações, a Transfiguração, o Sermão da Montanha, onde Jesus proclama a Lei das Bem-aventuranças, renovando a antiga Aliança feita no Sinai. Mas é também o monte da despedida, recordando o monte Nebo, onde Moisés se despede do povo no fim do primeiro Êxodo.
(v.17) Resumem-se as reacções dos discípulos: depois da adoração e do reconhecimento do Senhor, alguns duvidam. A dúvida só desaparecerá na experiência futura da missão, quando os enviados descobrirem o poder efectivo do Ressuscitado na conversão dos povos.
(v.18) No monte da tentação, Jesus recusou receber do Diabo o poder sobre os reinos do mundo; agora proclama que recebeu de Deus todo o poder no Céu e na Terra: “Foram-lhe dados todo o poder e todas as nações, segundo as suas raças, e toda a glória ao seu serviço (Dn 7, 14)”.
(v.19) Jesus realiza as profecias de Isaías na linha da universalidade. É preciso fazer discípulos de todas as nações, missão que tem de ser feita em duas etapas: baptizar e ensinar a Palavra. “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, faz o estabelecimento de uma relação pessoal do baptizado com a Santíssima Trindade, de pertença total deste à Trindade Santa.
(v.20) Jesus assegura a presença divina na comunidade, através da missão eficaz e duradoura dos discípulos. Pelos dons que a acompanham, essa presença é análoga à do Espírito Santo, cujos sinais e instrumentos são a palavra do Evangelho e os sacramentos.

CONCLUSÃO

A comunidade de Mateus é muito parecida com a nossa Igreja actual. É uma comunidade reunida em torno do seu Senhor, que proclama e serve na liturgia. Recebe d’Ele os ensinamentos que procura cumprir “com toda a justiça”; luta sempre por não se fechar sobre si mesma - embora sinta-se muitas vezes tentada a isso - procurando antes ser uma “Igreja para o mundo”, a “Galileia dos gentios”. Sabe que é sinal do Reino no mundo, Reino onde o Filho de Deus é Rei e Senhor, onde exerce a plenitude do Seu ministério, para deste Reino irradiar e chegar a todos os homens. A Igreja é uma comunidade de discípulos, que “seguem a Cristo” e vivem em conformidade com a Sua Palavra, sabendo que os sinais da Sua presença são o amor, a misericórdia e o perdão. Às vezes, esta comunidade sente-se desamparada, como um barco em alto mar, durante uma tempestade, mas se perseverar na fé e na oração, o Senhor a salvará, pois a sua última segurança é que, em Jesus, Deus tornou-se definitivamente Emmanuel - Deus connosco.

 
Igreja das Bem-aventuranças, ao pé do Mar da Galileia,
no monte onde a tradição indica ter sido proclamado o Sermão da Montanha.

Chega assim ao fim este simples estudo e reflexão sobre o Evangelho segundo São Mateus. Seguir-se-á no ano B o estudo e reflexão sobre o Evangelho segundo São Marcos. No entanto, até lá, esta oficina propõe-se aos seguintes projectos, que serão cumpridos dentro do possível:
- partilha de fotos e reflexões sobre a Peregrinação à Terra Santa que fiz integrada na Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, agradecendo a partilha de toda a minha “família” paroquiana que me acompanhou, bem de todos os que quiserem partilhar e reflectir;
- lectio divina da leitura de cada Domingo, começando a partir do próximo dia 22 de Maio, algo que se manterá neste blog, mesmo durante o aprofundamento do Evangelho segundo São Marcos;
- após a partilha sobre a Terra Santa, far-se-á um estudo e reflexão sobre o Catecismo da Igreja Católica, que decorrerá durante o Verão deste ano.
Espero que este blog vos possa servir e ajudar numa maior compreensão da Palavra e, sobretudo, a torná-la mais presente nas vossas vidas. Certamente, fez isso em mim. Muito obrigada a todos e continuação de uma Santa Páscoa, que o Espírito Santo nos faça novos seres, iluminados em Cristo, no Pentecostes.

Um comentário:

  1. Jesus ressuscita em nós em cada Páscoa. Só podemos viver intensamente esta ressurreição se, além de acreditarmos, anunciarmos. A fé em Cristo é uma fé viva, que cresce das nossas acções missionárias. Viver a Páscoa é viver intensamente toda a Palavra de Cristo e anunciá-la a todos, sem excepção, não só através de palavras, mas também através dos nossos gestos de amor, perdão e misericórdia.

    A todos o grande abraço fraterno em Cristo Ressuscitado!

    ResponderExcluir