26 de abr. de 2011

Uma pequena paragem, antes do fim...

Olá a todos os que seguem este espaço.
Estando quase a terminar a leitura do Evangelho segundo São Mateus,
vou ter de parar antes do último capítulo, pois vou seguir em Peregrinação
para a Terra Santa. Assim que voltar, na terceira semana de Maio,
farei um post com a leitura do último capítulo do Evangelho, ainda em
tempo de Páscoa.

ALELUIA! O Senhor Ressuscitou, essa é a maior notícia que podemos acolher em nossos corações.
Que o Senhor ressuscite em nossas vidas, para que esta luz nos ilumine e nos faça iluminar
o mundo e ser presença de Cristo Vivo

Sofia Rita

23 de abr. de 2011

PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (MT 26-27)


A última secção do Evangelho divide-se em duas partes: o homicídio do Filho do Homem (26, 1 - 27, 56) e a Sua Ressurreição (27, 57 – 28, 20). A submissão total do Filho é a do Senhor manso e humilde de coração (11, 28 - 30), a única autoridade credível, que põe um travão à violência dos poderosos, e pelo imenso amor dá a vida por nós e nos dá a vida eterna.
O relato da Paixão começa com um prólogo (26, 1-16), que prepara o cenário para os acontecimentos que se seguirão, dividido em três tempos: a conjura das autoridades; a unção de Jesus em Betânia; a traição de Judas.

Conspiração dos judeus (Mt 26, 1-5)
Mateus encerra com fórmula semelhante, o discurso do fim (v.1 - “Tendo acabado todos estes discursos…”). A partir deste momento, Jesus deixa de se esconder perante as ameaças e enfrenta directamente o Seu destino. Primeiro, vem a conjura das autoridades, onde os fariseus não estão presentes. Só surgirão num plano doutrinal, aparecendo depois da morte de Jesus, retomando as suas hostilidades dirigidas depois aos primeiros cristãos. A intervenção de Caifás, genro de Anás, sumo-sacerdote e presidente do conselho terá um papel determinante no processo para condenar Jesus.

Unção de Betânia (Mt 26, 6-13)
Simão, o leproso, seria provavelmente, alguém que teria sido curado por Jesus, tendo ficado conhecido pela sua condição anterior. A unção de Jesus tem um valor profético. A mulher pratica uma boa obra que não poderia ser feita noutra hora, pois, segundo Jesus (v.12 - “ela preparou a minha sepultura.”). A unção é o símbolo da profecia sobre o mistério pascal. A reacção depreciativa do gesto da mulher e da reacção de Jesus por parte dos discípulos pode ter sido uma das motivações que terá levado Judas a entregar Jesus.

Traição de Judas (Mt 26, 14-16)
Jesus anunciava que ia ser entregue, segundo o desígnio do Pai. Judas é o instrumento humano deste plano. Porque O terá traído? Será que o projecto de Deus não era aquilo que Judas esperava?
Trinta moedas de prata correspondiam ao preço de um escravo. De acordo com a profecia de Zc 11, 12, o bom pastor é entregue por um preço irrisório.


CEIA PASCAL (Mt 26, 17-35)

O “sangue da Aliança” está no centro do relato da Última Ceia de Jesus. Este recorda o sangue do cordeiro pascal que salvou Israel, marcando o povo do Senhor. O sangue derramado por Jesus, “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, redime o pecado do novo povo de Deus, sendo o sangue da Nova Aliança.

Preparação da Ceia Pascal (Mt 26, 17-19)
A narração da Última Ceia teve lugar no ambiente da Páscoa Judaica, que Jesus teria celebrado com os seus discípulos, como era tradição na altura do ano – Festa dos Ázimos, que durava uma semana, e durante a qual comiam-se pães sem fermento e imolava-se o cordeiro pascal. “O meu tempo está próximo” indica um momento determinado, o tempo da morte e glorificação de Jesus.


Anúncio da traição de Judas (Mt 26, 20-25)
Jesus sabe quem o vai entregar. Os discípulos, pouco seguros de si mesmos, pois representam os futuros cristãos, cuja fé e comunidade ainda estão em crescimento e desenvolvimento, interrogam-se sobre a sua relação com o Senhor. Jesus denuncia o instrumento humano do seu destino, pelo gesto de “meter a mão no prato”, que significa viver em comunhão com alguém, daí a gravidade da traição de Judas, pela relação íntima que tinha com Jesus, ao ser Seu discípulo e, no entanto, traí-l’O.

Instituição da Eucaristia (Mt 26, 26-29)
A narração da instituição da Eucaristia, inserida na narração da Paixão, mostra como Jesus compreendeu a Sua morte. Ele teve plena consciência de derramar o seu sangue para a remissão dos pecados. Para a fé da comunidade, quando se faz o memorial da Ceia, não se trata apenas de recordar ou renovar esta, mas de actualizar o gesto sacrificial de Jesus na cruz e antecipar o banquete escatológico. As palavras “pão” e “vinho” têm de ser ligadas com Aquele que as pronunciou e no quadro da refeição que lhes dá sentido, pondo em evidência a dimensão pascal e sacrificial do rito: v.28 - “sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos”.
A expressão “deu graças” e o correspondente verbo grego “eucharistô”, estão na origem da palavra “Eucaristia”, com que se designa a Ceia do Senhor.
Derramando o Seu sangue na cruz, Jesus conduz a seu termo a Aliança do Sinai, selada com o sangue das vítimas animais. Ao mesmo tempo, Jesus anuncia o cumprimento da Nova Aliança e proclama o valor universal do Seu sacrifício por toda a humanidade. O v.29 refere a dimensão escatológica da última Ceia e exprime a esperança de ter parte na refeição celeste. A morte de Jesus constitui um ponto de partida, encontro oferecido aos crentes que, pelo sangue da Aliança, celebrará o cumprimento final do Reino que o Evangelho anuncia.

Anúncio das negações de Pedro (Mt 26, 30-35)
Jesus recorda aos discípulos que a Sua morte será perturbante para eles, que esperavam o Seu triunfo sobre os inimigos. Mas, no momento derradeiro, vão ter medo, negar Jesus e fugir. Mas este não será o fim. Jesus deixa uma mensagem de esperança: fala-lhes da Sua Ressurreição e aparição futura na Galileia.

Oração de Jesus em Getsémani (Mt 26, 36-46)
Getsêmani significa “lagar de azeite”, e situava-se no Vale do Cédron, no sopé do Monte das Oliveiras. Jesus comunica aos discípulos que tinham sido testemunhas da Transfiguração, que se sentia num estado de tristeza mortal, que lembra a Justo sofredor do Sl 31. Na cena da agonia podemos ver em Jesus o modelo de oração no tempo da tentação (v.41), e a Sua perfeita obediência (v.42): as palavras de Jesus neste versículo não são de resignação, mas de total conformidade com a vontade do Pai. Na oração, Jesus encontra a Sua força para resistir à tentação de fugir do destino que lhe estava reservado, de escolher o caminho mais fácil. Esta oração torna-se um modelo para os discípulos: “”Vigiai e orai, para não cairdes em tentação.” (v.41)



O PROCESSO DE JESUS (Mt 26, 47 – 27, 66)

O processo de Jesus desenvolve-se em duas partes: primeiro, no tribunal judaico, e depois, perante as autoridades romanas, tornando-se um processo perante uma multidão, diante de todo o mundo.

Prisão de Jesus (Mt 26, 47-56)
Perante a atitude de luta física dos discípulos, Jesus afirma a plena autoridade que lhe vem do Pai e a sua total submissão à vontade divina. Em seguida, critica a injustiça e a cegueira dos que o prendiam, distanciando-se de ser tratado como um ladrão ou zelota, e de ser crucificado como tal.

Jesus no tribunal judaico (Mt 26, 57-68)
A primeira acusação levantada contra Jesus é a de querer destruir o templo. Jesus nunca se atribuiu o papel de destruidor do templo. O que Jesus anunciara fora a destruição do templo e do culto judaico, e a sua substituição por um templo novo, o Seu corpo ressuscitado e a comunidade eclesial unificada pela Eucaristia como um só corpo em Cristo. Como esta acusação não avança, vem a segunda. Perante a pergunta “Tu és o Messias?”, Jesus responde de maneira indirecta, anunciando a vinda do Filho do Homem, como personagem celeste e o privilégio do filho de David que deve sentar-se à direita de Deus. Esta resposta é considerada blasfémia pelo Sumo-sacerdote, que não reconheceu Jesus como a realização do Messias esperado, e é o argumento para condenação. Seguem-se as injúrias que cometem sobre Jesus, que assume o destino do Servo de Deus: “Não desviei o rosto dos que me ultrajavam e cuspiam.” (Is 50, 6)

Três negações de Pedro (Mt 26, 69-75)
Pedro, com medo de ser identificado como um dos companheiros de Jesus e de ser preso e de sofrer como Ele, nega o Senhor. Este episódio termina o primeiro processo de uma forma dramática: um dos discípulos, o que antes tinha afirmado que Jesus era o Messias, afirmava neste momento não O conhecer. Ao reconhecer o seu pecado, salvo por um acto de memória crente, segue-se o choro do arrependimento. A queda de Pedro representa toda a queda futura do crente, quando a fé suscita oposições e perseguições. Mas o arrependimento é sempre possível e válido.
NOTA: A palavra “Nazareno” pode querer dizer alguém proveniente da Galileia, mas na intenção de Mateus, poderá referir-se a “nazireu”, o santo de Deus por excelência.

Jesus levado a Pilatos (Mt 27, 1-2)
Apesar de poder emitir sentenças capitais, o supremo tribunal dos judeus só podia executar as sentenças se estas fossem autorizadas pelo governador romano, que naquele tempo era Pôncio Pilatos.

Remorso de Judas (Mt 27, 3-10)
Judas reconhece que entregou sangue inocente, mas devolver o dinheiro não reverte a situação. Os sumos-sacerdotes e os anciãos deixam Judas à sua própria responsabilidade. Lançando as moedas no Templo, Judas vai suicidar-se. O dinheiro é usado para comprar um cemitério para estrangeiros. Mateus insere uma citação (v.9-10) que combina Zc 11, 12-13 com Jr 18, 2-3, Jr 19, 1-2 e Jr 32, 6-15. Esta citação leva a reflectir sobre o significado do sangue derramado por Jesus. A compra deste terreno permite a sepultura honrosa dos estrangeiros, primeiro sinal dos benefícios universais do preço que vale o sangue do Cordeiro.

Jesus perante o tribunal romano (Mt 27, 11-14)
A acusação levantada contra Jesus é levada pelos sumos-sacerdotes e os anciãos para o plano político, procurando torná-la plausível de ser considerada pelas autoridades romanas. A questão de Pilatos está relacionada assim com esta temática, pois se as pretensões de Jesus fossem a realeza, isso contestaria a autoridade romana.

Jesus e Barrabás (Mt 27, 15-26)
A crucifixão era prática habitual dos romanos como sentença naquele tempo. Partindo do hábito da amnistia, o prefeito propõe uma troca entre Jesus e um preso, Barrabás. Por outro lado, a esposa de Pilatos tem uma revelação em sonhos de que Jesus é justo, pedindo que Pilatos não interfira no processo. Os judeus assumiram a responsabilidade pela sua opção de condenar Jesus, preferindo soltar Barrabás, um preso famoso, que poderia ser um rebelde ou preso político. Pilatos cede à pressão, mas desonerando-se da sua responsabilidade sobre a condenação, pelo gesto de lavar as mãos. Segue-se a flagelação, também de origem romana, que era praticada antes da crucifixão, para abreviar os tormentos dos condenados.

Coroação de espinhos (Mt 27, 27-31)
O pretório era a residência do pretor, onde se instalava o procurador romano quando se deslocava de Cesareia a Jerusalém. O escárnio salienta a injustiça do opressor a respeito do justo e do pobre. Ao ser zombado como Profeta e escarnecido como Rei, Jesus enfrenta dois aspectos do Seu processo: o religioso e o político.

A caminho do Calvário. Crucifixão de Jesus. (Mt 27, 32-44)
A tragédia no Calvário tem duas boas novas que equilibram a aparente solidão de Jesus, condenado à morte: Simão de Cirene - colónia grega na costa do norte de África, onde viviam muitos judeus – embora requisitado para levar a cruz, representa os crentes futuros que tomarão a sua cruz para seguirem Cristo; após a morte, as mulheres serão as primeiras mensageiras da Ressurreição, e elas assegurarão a continuidade da fé nas primeiras comunidades.
Começa por ser descrito o lugar da execução, o Gólgota é um nome aramaico que alude à forma do rochedo, de um crânio. Segue-se todas as realidades ligadas ao acontecimento: a bebida recusada, a divisão das vestes, o letreiro com o motivo da pena. A junção do fel tornava o vinho intragável: ao recusar a bebida, Jesus demonstra a Sua consciência e liberdade interior em relação ao que estava a suceder-se. A inscrição no letreiro reflecte o anti-judaísmo de Pilatos e o seu cinismo: o rei que merecem os judeus é o pobre homem pregado na cruz. Mateus corrige esta situação com uma formulação mais solene, propícia à veneração: “Este é o Rei dos Judeus” (27, 37). Após isto, ocorre uma cena de troça, pelos que estavam crucificados, pelos que assistiam à cena, pelas autoridades. O episódio tem por centro o verbo “salvar”, que aparece três vezes e retoma a questão sobre a identidade do Filho de Deus.

Morte de Jesus (Mt 27, 45-56)
As trevas que envolveram a terra representam o juízo de Deus, que se estende sobre a terra a partir da cruz. O grito de Jesus no v. 46 é de dor, não de desespero. O gesto da esponja terá sido por compaixão face à dor que Jesus sentia.
A morte de Jesus é relatada num breve versículo (v.50). O Seu grande grito resume a oração dos salmistas. E, assim, Jesus “deixou partir o espírito”.
O facto do véu do templo ter-se rasgado pode ter dois significados:
- Se o véu do templo é a cortina que separava o pátio do templo propriamente dito, então a morte de Jesus permite o acesso dos pagãos à presença de Deus;
- Se o véu do templo é a cortina que separava o lugar sagrado do Santo dos Santos, então a morte de Jesus significa o fim do sacerdócio da Antiga Aliança.
Os santos que voltam à vida seriam os justos e os profetas, cujo sangue foi derramado antes do de Jesus.
O v.54 surge na perspectiva dos frutos da vida futura que a cruz semeou: a confissão de fé dos pagãos, representados pelo centurião e pelos que estavam com ele: “Este era verdadeiramente o Filho de Deus!”
Mateus menciona as mulheres, que não fugiram, e entre elas a mãe dos filhos de Zebedeu, que tinha pedido que os seus filhos ocupassem os assentos à direita e à esquerda de Jesus no seu Reino e que, na crucifixão, viu dois ladrões a ocuparem os lugares à direita e à esquerda de Jesus.



Sepultura de Jesus (Mt 27, 57-61)
A insistência sobre a sepultura pretende sublinhar a realidade da morte de Jesus. A sepultura realiza-se por iniciativa de José de Arimateia, que obtém autorização de Pilatos. José seria rico e influente o suficiente para conseguir essa autorização, mas Mateus refere-o sobretudo com um verdadeiro discípulo do Senhor.
O sepulcro é sóbrio e, ao mesmo tempo, cheio de veneração. A colocação da pedra grande assinala o poder definitivo da morte. Finalmente, as mulheres velam o corpo.

O sepulcro guardado (Mt 27, 62-66)
O dia da Preparação era a sexta-feira, dia em que os judeus preparavam a celebração do sábado. A suspeita dos sumos-sacerdotes e dos fariseus são eco da polémica entre judeus e cristãos por causa da hipótese do roubo do corpo do Senhor. Ao garantir-se a vigilância do sepulcro, responde-se à objecção dos judeus quanto à Ressurreição.

22 de abr. de 2011

MINISTÉRIO EM JERUSALÉM (MT 21-25)


Estes capítulos condensam a actividade de Jesus em Jerusalém em dois dias. Começa com um prólogo, em Mt 21, 1-22, que cobre o primeiro dia e o início do segundo dia. A continuação do segundo dia segue-se dividida em duas partes: a primeira compreende Mt 21, 23 - 23, 39 e passa-se no Templo, onde Jesus defende a sua autoridade  e julga os que a Ele se opõem; a segunda parte inclui Mt 24, 1 – 25, 46 e passa-se no Monte das Oliveiras, consistindo no discurso sobre o Fim.

A chegada de Jesus a Jerusalém (Mt 21, 1-22)
Jesus é recebido como Rei, mas na realidade, prepara-se a Sua Paixão. Neste prólogo, Jesus purifica o Templo, exortando à oração, e indica que Jerusalém não tem o fruto esperado (figueira estéril) e que os discípulos serão postos à prova, que ultrapassarão se permanecerem firmes na fé.

Entrada messiânica (Mt 21, 1-11)
A narração da entrada de Jesus em Jerusalém pode dividir-se em três partes: preparação (v.1-3), entrada (v.6-9) e efeito (v.10-11).
Jesus parte de Betfagé, hoje, Kefret-Tûr, montado num jumento, escolhido por ser símbolo de humildade e de paz, mas também o Rei humilde enviado a Sião de Zacarias 9,9 (v.5). Jesus é aclamado como um herói e o Salvador – “Hossana” significa “salva pois”. Toda a cidade é abalada (v.10) com a entrada de Jesus, como o será no momento da Sua morte (Mt 27, 51) e no anúncio da Ressurreição (Mt 28, 2). A citação no v.9 do Sl 118, 25, 26, sublinha a importância da vinda de Jesus, como Aquele que vem inaugurar a era messiânica. No entanto, a multidão questiona-se: ainda vêem Jesus apenas como um profeta de Nazaré, não compreendem verdadeiramente que têm diante de si o Messias.

Purificação do Templo (Mt 21, 12-17)
Os cambistas permitiam aos judeus trocar dinheiro para adquirir as ofertas para o templo aos vendedores. Estas operações não deviam ocupar espaço par além do pátio dos gentios. O gesto de Jesus é um acto de autoridade messiânica, procurando restituir ao templo a sua verdadeira função: “casa de oração”; ao curar cegos e coxos no templo, readmite ao culto aqueles que eram excluídos, indiciando a participação total de todos os marginalizados na assembleia de Deus. Ao citar o Salmo 8,3 no v.16, Jesus mostra como são os “pequeninos” a descobrir o Seu carácter messiânico. Este salmo foi cantado, segundo a tradição, pelas crianças, durante a travessia do Mar Vermelho. As crianças simbolizam os cristãos que vêem, na ressurreição de Jesus, a abertura de um novo Êxodo.

A figueira estéril (Mt 21, 18-22)
Este episódio da figueira parece ser uma referência à condenação da esterilidade religiosa do templo (“árvore sem frutos”), uma bela construção, exuberante como a folhagem de uma figueira, mas sem valor ao não cumprir a sua verdadeira função. Ao recomendar maior perseverança na fé e na oração, Jesus acentua a importância de o templo ser, sobretudo, uma casa de oração, onde se produzam frutos da fé.
Este episódio anuncia as confrontações decisivas que se vão seguir entre as autoridades judaicas e Jesus.


I – No Templo: Jesus e as autoridades (Mt 21, 23 – 23, 39)
Jesus regressa ao Templo, onde vai debater-se com as autoridades locais. Eles observaram Jesus a ensinar e lembram-se das suas acções no dia anterior. Por isso, questionam-n’O sobre a origem da Sua autoridade. A resposta aos adversários compreende três parábolas de julgamento (21, 28- 22, 14), seguidas de quatro controvérsias (22, 15-46). Depois, dá-se um julgamento severo contra os escribas e fariseus (23, 1-36), terminando com uma apóstrofe contra Jerusalém, uma lamentação sobre o destino da cidade, fruto da escolha da própria, após a qual Jesus deixa o Templo.

Autoridade de Jesus (Mt 21, 23-27)
Ao não responder, demonstrando falta de compreensão, sobre o baptismo de conversão de João, os sumos sacerdotes e os anciãos não poderiam compreender de onde provém a autoridade de Jesus. Apenas convertendo-se que se conhece o poder do Reino do Céu, e daí a autoridade de João e de Jesus que anunciam esse Reino.
 
Os dois filhos (Mt 21, 28-32)
A parábola dos dois filhos refere-se aos gentios e aos judeus. Os judeus, que seguem tantas leis e preceitos, falham muitas vezes na vivência do amor: são simbolizados pelo filho que diz “Vou sim”, mas depois não vai trabalhar. Assim se anuncia a denúncia dos sacerdotes e dos anciãos, que não se corrigem. Os gentios, apesar de não pertencerem ao povo eleito, de não recitarem orações e cumprirem as leis de Moisés, se vivem segundo o amor e trabalham para a construção do Reino, esses sim, fazem a vontade do Senhor (como o filho que diz que não, mas depois arrepende-se e vai trabalhar na vinha do Pai).

“A palavra é viva, quando são as acções que falam. Peço-vos que as palavras se calem e que as acções falem. Estamos cheios de palavras, mas vazios de acções; por causa disso, o Senhor nos amaldiçoa, Ele que amaldiçoou a figueira em que não encontrou frutos, mas apenas folhas.”

Homilia de Santo António de Lisboa

Parábola dos vinhateiros homicidas (Mt 21, 33-46
Esta parábola visa a sorte da vinha, que simboliza Reino de Deus e o facto de que o Filho deve morrer e ressuscitar pelo Reino. Os vinhateiros são as autoridades a quem Deus confiava Israel, responsáveis pelos frutos que Deus esperava do Seu Povo (a sua conduta). No entanto, eles maltrataram os servos – figurativos dos profetas do AT, e o próprio Filho – Jesus Cristo, matando-o. A citação de Sl 118, 22-23, orienta a parábola para mais do que um anúncio da morte, mas sobretudo numa contemplação da obra admirável de Deus que ressuscita o Seu Filho: a pedra rejeitada (Cristo) será a pedra angular do projecto de Deus. A vinha é o Reino do Céu, que se tornará uma realidade nova: a Igreja, que não substitui Israel, abarcando toda a humanidade, e cujos responsáveis saberão dar o fruto esperado. O Reino será dado a “um povo”, a nova geração dos crentes.

Parábola do grande banquete (Mt 22, 1-14)
Esta parábola explicita quem é o novo povo a quem será confiado o Reino do Céu. A relevância da história assenta, sobretudo, na recusa do convite pelos primeiros convidados. As bodas surgem como um símbolo frequente na Bíblia para designar a feliz comunhão de Deus com o Seu povo. Os primeiros enviados são talvez os profetas de Israel. Os segundos enviados parecem integrar os sábios e escribas que guiaram o povo eleito.  A destruição da cidade pode referir-se a Jerusalém, cidade que alberga os primeiros convidados, o povo de Israel, que não aceitou o Filho, que não comunga da felicidade do Senhor sobre a era messiânica. A saída dos caminhos ou cruzamentos, indo para fora da cidade, simboliza a universalidade do convite para todas as pessoas que queiram fazer parte da alegria do Reino. Os enviados nesta última fase representam os primeiros missionários que recrutam “maus e bons”. No entanto, os convidados devem vestir-se a rigor para a boda: as suas vestes serão as suas boas obras. O convite feito é gratuito, mas exige muito de todos. Só poderão fazer parte da boda aqueles cuja conduta está adaptada ao chamamento do Evangelho do Reino. Por isso, “muitos são chamados e poucos escolhidos”.

As três parábolas, têm o propósito de mostrar que ser chamado não é, forçosamente, ser eleito. A Igreja tem uma responsabilidade no futuro do Reino, e esta também será julgada pelas suas “vestes” e pelos frutos que tiver produzido.

O tributo a César (Mt 22, 15-22) - controvérsia
O imposto era pago por todas as províncias do império romano, sendo recusado pelo movimento dos zelotas. Os partidários de Herodes eram favoráveis à presença romana, pelo que eram contrários aos zelotas. Ao associarem-se a eles, poderia haver por parte dos fariseus uma intenção em verificar ou até suscitar a suspeita de alguma associação entre Jesus e o movimento rebelde zelota. A resposta de Jesus anula esta tentativa e também demonstra que Jesus não tinha interesses políticos. O importante para o crente é não deixar que as decisões políticas afectem os projectos divinos de libertação.

A ressurreição dos mortos (Mt 22, 23-33) - controvérsia
Os saduceus, ao contrário dos fariseus, não acreditavam na ressurreição, tanto que a sua questão vem carregada de ironia, além de demonstrar que a ressurreição não é de facto, compreendida na sua essência por estes. Jesus não desmerece o matrimónio, mas salienta que os ressuscitados não têm outra preocupação senão servir e louvar a Deus, e por isso, todas as ligações terrenas deixam de ter sentido, são como “anjos no Céu”. Além disso, responde à questão da ressurreição, frisando que Deus revela-se a Moisés como Deus dos seus pais (Abraão, Isaac e Jacob), um Deus vivo que conduz a História dos viventes.

O mandamento do amor (Mt 22, 34-40) - controvérsia
Esta passagem aborda um dos conflitos entre Jesus e os seus interlocutores. Os dois mandamentos conhecidos do AT têm igual importância, e contêm toda a Lei. No primeiro mandamento, o amor de Deus não tem limites. É mais do que um mero sentimento: é um compromisso para servir o Senhor com todo o ser (coração), com todas as energias (alma) e com toda a inteligência (espírito). O segundo mandamento não é uma alternativa, mas complementa-se com o primeiro: o amor ao próximo participa da totalidade do amor de Deus, amando o próximo na mesma medida. O amor do próximo mede-se ao que cada pessoa deve a si mesma. Criada à imagem de Deus que  nos ama, não nos podemos desprezar nem a nós mesmos nem ao nosso próximo, imagem de Deus como cada um de nós.

O Messias, Filho e Senhor de David (Mt 22, 41-46) - controvérsia
Jesus esclareceu bem a sua posição relativamente às realidades políticas nos versículos anteriores: deu o aval à fé dos fariseus na ressurreição dos mortos e, como eles, faz do amor de Deus e do próximo a essência da religião. Depois de ser questionado, Jesus coloca Ele próprio uma questão aos fariseus. A qualidade do Messias não se confunde com a filiação davídica, antes, é-lhe superior, pois o Messias é Filho de Deus. Por isso, embora haja pontos de partilha, não exige um acordo total. Jesus é, assim, Senhor de David, e transmite-nos a interpretação verdadeira da Lei segundo a vontade do Pai.

Condenação do Farisaísmo (Mt 23, 1-36)
Esta parte reúne uma série de lamentações dirigidas contra os fariseus. À semelhança da indignação dos profetas, elas manifestam uma dor profunda face à hipocrisia e falsidade farisaica. Jesus dirige-se às multidões, submetidas aos escribas e às influências dos fariseus, e aos discípulos cristãos. A introdução divide-se em duas partes e incide sobre o poder religioso. A primeira parte (v.2-7) dirige-se aos fariseus e aos escribas, referindo que a sua conduta contradiz a sua missão, que submetem as pessoas a jugos pesados, que gostam de receber honras sociais pelo seu estatuto. A segunda parte (v.8-10) refere-se às relações entre os ministérios cristãos e os fiéis, apelando à humildade, não procurando reconhecimento social. Essa é a conclusão do v.11: o ministro é um servo, que se humilha e serve o Reino. O conjunto das sete maldições que se seguem constitui um quadro de antíteses das bem-aventuranças. São uma denúncia da perversão da autoridade dos escribas e dos fariseus. Os culpados suprimirão os futuros enviados de Jesus (v.32-36), confirmando a sua perversidade. Haverá uma condenação que começará pela destruição de Jerusalém
NOTA: “Filactérias" eram pequenos estojos colocados nas orlas dos mantos com palavras essenciais das leis, que os judeus colocavam sobre o braço esquerdo ou sobre a fronte. Os fariseus alargavam estas para se exibirem.

Lamentação sobre Jerusalém (Mt 23, 37-39)
Jesus anuncia o fim do ministério público e a destruição de Jerusalém, devido à sua recusa dos enviados de Deus. Jesus sai do Templo, marcando uma ruptura decisiva, pois não voltará lá. Por outro lado, anuncia o seu retorno em glória, no qual os judeus que se converterem farão parte (v.39).



II – Fora do Templo: Discurso sobre o fim (Mt 24, 1 – 25, 46)
Jesus deixou o Templo, depois de denunciar a atitude dos responsáveis do Seu Povo. Inicia-se, então, o último dos cinco discursos, sobre o fim do mundo. A introdução (Mt 24, 1-3) parte do anúncio da destruição do Templo. A primeira etapa (Mt 24, 4-31) refere a ruína de Jerusalém interligada com o anúncio do fim do mundo, onde o Filho do Homem aparece em toda a Sua glória, para julgar a humanidade. A segunda etapa (Mt 24, 32 – 25, 30) foca-se na preocupação com os discípulos, na sua preparação para o momento crucial. São então apresentadas cinco parábolas centradas no dever de uma vigilância activa.

Anúncio da destruição do templo (Mt 24, 1-8)
O templo encontrava-se em construção e renovação sob as ordens de Herodes, e só ficaria concretizado a partir de 60 d.c. A destruição do Templo marca o início do fim do mundo e da realidade como eram conhecidos.

Sinais precursores (Mt 24, 3-8)
A palavra grega “parousia” designa a chegado do Filho do Homem no fim do mundo. Existem três temas nesta parte, intimamente ligados: a destruição de Jerusalém, fim do mundo e vinda gloriosa do Filho do Homem. Jesus adverte para, em vez de procurar sinais precursores desta vinda, insistir na vigilância durante o tempo de espera. Nesse tempo, os discípulos sofrerão perseguições e tribulações, referidos como o “princípio das dores”, expressão associada às dores de parto, dores antes de fazer nascer uma nova criança, um novo princípio.

Perseguição aos discípulos (Mt 24, 9-14)
Apesar de todas as dificuldades, esta passagem termina com uma mensagem de esperança: quem “se mantiver firme será salvo”. Apesar de todas as contrariedades, a pregação do Evangelho a todos os povos vai acontecer, pois é sinal e razão da História da Salvação.

Destruição de Jerusalém (Mt 24, 15-22)
A “abominação da desolação” pode referir-se a profanações, do templo de Jerusalém por Antíoco IV Epifânio (1 Mac 1, 54), ou pelos exércitos romanos no ano 70. Esta também pode referir-se , no tempo da Igreja, a um período de confusão de traições, apostasias e perseguições, verificadas mais tarde. A abreviação dos dias indicada nos últimos versículos pode ser uma alusão aos cristãos espalhados pelo mundo, poupando a Humanidade da punição final.

Falsos messias ( Mt 24, 23-28)
Quando o Filho do Homem vier, não haverá dúvidas nem confusões: tratar-se –á de um facto universal e claro, pelo que não vale a pena preocupar-se com as condições dessa vinda. Todos daremos por ela.

Vinda do Filho do Homem (Mt 24, 29-31)
As expressões encontradas nesta passagem fazem parte da linguagem apocalíptica do AT e servem para mostrar a projecção cósmica e o carácter decisivo da intervenção final de Deus na História. A reunião de todos os eleitos acentua a universalidade do Filho do Homem.

Sinal da figueira (Mt 24, 32-35)
A figueira serve como imagem para perceber a verdade das palavras de Jesus perante aqueles que julgavam próximo o fim do mundo. Os sinais serão tão claros como os sinais da natureza são claros para nós.

Vigilância (Mt 24, 36-44)
Duas parábolas sobre a vigilância. A primeira refere-se ao dilúvio do tempo de Noé. As pessoas negligenciaram os avisos, não pensaram que Deus poderia intervir no quotidiano. A segunda parábola, sobre o ladrão, refere-se, mais do que a um dia específico, como no caso do dilúvio, a uma vigilância que tem de ser feita a todo o momento. O dono da casa é o Senhor, que pode regressar a qualquer momento, realçando a importância da vigilância activa por parte dos discípulos.

Parábola do mordomo fiel (Mt 24, 45-51)
Apresenta a vinda do Filho do Homem como um acontecimento inesperado, tal como as duas parábolas anteriores. Nesta parábola, a falta de vigilância, traduzida em acções desgovernadas e contrárias à vontade do Senhor, levam a que o servo sofra um castigo severo, pois corresponde à infidelidade do servo para com o Senhor.

Parábola das dez virgens (Mt 25, 1-13)
Esta parábola e a seguinte põem um acento na gestão do tempo presente, em vez da perspectiva repentina e inesperada das anteriores. A figura do noivo e das núpcias está relacionada com a vinda do Filho do Homem: Jesus é o esposo que efectua a união entre Deus e o Seu Povo. Dentro do tema da vigilância, esta segunda parábola recomenda ao discípulo estar preparado para a vinda do Senhor, permitindo-se descansar (v.5-7 – o sono das virgens), estando atento ao anúncio da chegada, permitindo tempo para se preparar para o momento.

Parábola dos talentos (Mt 25, 14-30)
Esta última parábola, ligada ao tema da vigilância, encontra a sua relação com a passagem seguinte. O discípulo deve pôr os seus “talentos” ou capacidades a favor do Reino, para o ajudar a crescer. Senão, não tomará parte do resultado final. O v.29 mostra como a generosidade de Deus é ilimitada para com o que fez render os seus talentos e, no entanto, o rigor do Seu juízo para o servo preguiçoso. Esta parábola convida a uma espera produtiva da vinda do Senhor. A atribuição de um número diferente de talentos está relacionada com as aptidões de cada um: o Senhor não exige proezas, mas julga cada crente segundo as suas aptidões. No entanto, o crente só o é verdadeiramente quando age. O Reino é exigente, é preciso dar tudo de si.

Juízo definitivo (Mt 25, 31-46)
O discípulo que pratica as obras da misericórdia é o discípulo que faz “render os talentos do Reino”. Os actos louvados por Jesus são as obras de misericórdia e piedade, e são inseparáveis das virtudes da justiça e da caridade para com os “pequeninos”, todos aqueles que estão necessitados. Para os que vivem segundo a misericórdia, será o Reino do Pai. O julgamento não incide, assim, sobre a fé ou a ausência da fé em Jesus, mas sobre o amor. Mais exactamente, segundo o pensamento de que é vazia a fé que não age por amor (Tg 2, 14-26).