1 de ago. de 2013

ANÚNCIO DO NASCIMENTO DE JESUS E NASCIMENTO DE JOÃO BAPTISTA

Anúncio do nascimento de Jesus (1, 26-38)

Esta narrativa apresenta-nos uma revelação a Maria que diz respeito ao mistério de Jesus e, secundariamente, à vocação de Maria ao serviço deste mistério.
O texto segue a estrutura de cenas do AT (e.g. Jz 13; Gn 16, 17; Ex 3, 12) dos anúncios ligados a um chamamento ou vocação:
- aparição de um Anjo;
- anúncio de um filho providencial;
- vocação (“O Senhor está contigo”);
- oráculos messiânicos.

O texto começa localizando a cena no tempo e no espaço, Nazaré da Galileia:
v.26) A indicação “sexto mês” é feita a partir da concepção de João Baptista.
v.27) LUCAS realça a virgindade de Maria. Embora casada com José, Maria ainda não viveria em comum com José, pois era tradição haver um espaço de tempo após o casamento para a esposa ser introduzida na casa do esposo. Ela estaria, assim, no estado de pureza que permite acolher o Senhor no seu seio.
v.28) A saudação “salve” alude às saudações à “filha de Sião” encontradas em algumas passagens do AT (e.g. Zc 2, 14). A saudação do anjo é um convite à alegria messiânica. Maria é “cheia de graça”, pois é escolhida e amada por Deus, é sua predilecta, pelo que recebe a Sua graça. “O Senhor está contigo” é uma expressão presente frequentemente nas narrações de vocação (e.g. Ex 3, 12). “Bendita és tu entre as mulheres” pensa-se ter sido inserida posteriormente por influência das palavras de Isabel no v. 42.
v. 29) A perturbação de Maria, antes de uma reacção de medo, é uma atitude de reflexão sobre o mistério da mensagem que lhe foi dada e a sua interrogação interior sobre o sentido da vocação a que está a ser chamada.
v. 31-33) Embora haja semelhanças entre o anúncio do nascimento de Jesus e o anúncio do nascimento de João, o anúncio de Jesus está em estreita ligação com os oráculos proféticos (ver 2 Sam 7, 14.16 e Is 7, 14; 9,6), em que este é designado como o Messias, o Filho de Deus, da filiação divina, concebido por uma virgem.
v. 34) A pergunta de Maria não manifesta a incredulidade da de Zacarias, mas antes, a procura de esclarecimento e como introdução a uma revelação mais completa do mistério de Jesus que vai seguir-se. Enquanto Zacarias procurava um “saber” novo, para além do saber trazido por Deus, Maria pergunta apenas como se pode realizar o anúncio messiânico, visto ela ser virgem, referindo-se ao poder de Deus e como é possível tal maravilha.
v. 35) O Espírito Santo, que actua na criação e no ministério dos profetas, é o que intervém na investidura do Messias. “Estender a sombra” significa a presença eficaz de Deus no meio do Seu povo. Recorda a nuvem divina que manifestava a presença do Senhor sobre o tabernáculo do deserto. “Santo” é um dos atributos mais antigos que exprime a divindade de Jesus, significa a pertença total e exclusiva a Deus. A concepção virginal significa a união insondável de Jesus com Deus, seu Pai. “Filho de Deus” é uma designação do Messias e exprime a relação misteriosa que une Jesus a Deus – esta expressão sai apenas de Deus, de Jesus ou dos anjos em LUCAS. Este título aprofunda o de “Filho do Altíssimo”.
v. 38) “Serva” exprime uma atitude de fé e de amor, de posse incondicional por parte do Senhor. Maria conforma-se totalmente com o misterioso desígnio de Deus a seu respeito. “Servo de Deus” é um título de glória, não de humildade.

Podemos rever em Maria a perfeição do discípulo que ama o Senhor, que O serve incondicionalmente, e que na sua entrega total e com uma pureza interior plena, O acolhe em Seu coração, “dando à luz” os frutos deste Amor incondicional. Este Amor traduz-se no anúncio pleno e eficaz do Evangelho na sua vida e na de todos com quem se encontra diariamente.



Visita de Maria a Isabel (1, 39-45)

A visita de Maria serve de ponte entre os dois relatos da anunciação. O Anjo tinha dado um sinal a Maria e o desenvolvimento do relato requeria que esta fosse reconhecer o sinal de Deus, pelo que se dirige com pressa, sinal da sua fé e inteira disponibilidade perante a vontade de Deus.
v. 39) A cidade de Judá ou Judeia é identificada pela tradição como sendo Ain-Karim, a 6 km para oeste de Jerusalém.
v. 41) O encontro das duas mães é o encontro dos dois filhos. As duas servem uma missão que envolve os dois filhos. João “salta de alegria” no seio da sua mãe, pois começa o tempo da alegria messiânica. É o primeiro encontro de João com o Messias do qual será precursor e que define toda a razão da sua existência.
v. 42) João inaugura a sua missão profética pela boca da sua mãe, que ficara “cheia do Espírito Santo”. Uma saudação tem sempre a finalidade de desejar felicidade e a bênção divina: Isabel saúda Maria como a “mãe do meu Senhor”, reconhecendo o mistério de Maria e a presença do Senhor nela por obra do Espírito Santo.
v. 43) “Senhor” é um dos títulos que LUCAS atribui a Jesus desde o início da Sua vida terrestre, designando-o antecipadamente como o filho de Deus ressuscitado.
v.45) Ao contrário de Zacarias, Maria acreditou na palavra de Deus: é desta Fé total que lhe vem a felicidade e o cumprimento de toda a Palavra que o Senhor lhe anunciara.


Cântico de Maria (1, 46-56)

A primeira manifestação de João é seguida do Magnificat, e a primeira manifestação de Jesus no templo será acompanhada do Nunc Dimittis. Da mesma forma, o nascimento de João é seguido do Benedictus e o nascimento de Jesus do Glória dos Anjos. Estes hinos e cânticos são louvores perante a alegria messiânica do plano salvador de Deus para o Seu povo que se começa a revelar.
v. 46) O cântico de Maria – Magnificat – inspira-se sobretudo no cântico de Ana, em 1 Sm 2, 1-10, sendo um cântico de acção de graças. Com substrato nos salmos e nos profetas, este hino canta a gratidão e a exultação da mãe de Jesus e de todo o povo pelo cumprimento das promessas. Existem dois temas: a justiça de Deus, que socorre os pobres e pequeninos, e a Sua fidelidade e misericórdia ao povo das promessas. Talvez por isso este cântico Evangélico seja recitado nas Vésperas (Liturgia das Horas), recordando-nos sempre que Deus é justo, fiel e misericordioso para quem n’Ele acredita e que nada temos a temer ao cair do dia.
v. 54) Por isso, o AT (Israel) afirma que Deus “se lembra” porque é fiel às suas promessas e as executa infalivelmente.
v. 56) Maria ficou três meses com Isabel, isto é, até ao nascimento de João Baptista. A partida de Maria marca a conclusão da narração antes da passagem a outra. O Evangelho marca a distinção das cenas e acentua a separação do tempo de João do tempo de Jesus.


Nascimento e circuncisão de João Baptista (1, 57-66)

v. 60) Embora no AT o nome seja dado ao nascimento, segundo um costume judaico mais recente, era atribuído na altura da circuncisão. O nome foi atribuído pela mãe, algo que não era aceite na altura, pertencendo ao pai e seguindo a tradição.
v. 62-63) Além de mudo, Zacarias também ficou surdo, pelo que tinham de comunicar com ele por sinais.
v. 64-65) O acordo de Zacarias e de Isabel quanto ao nome de João, surge naquele momento, sem acordo prévio, o que é percebido como um sinal de Deus, provocando admiração e temor. O nome de João é um desígnio divino, o que leva os presentes a questionarem-se sobre quem será esta criança. Ao escrever o nome “João”, Zacarias afirma a sua fé e a sua boca abre-se.
v. 66) “Memória” pode significar “coração”, a sede de toda a vida íntima do ser humano: pensamento, recordação, sentimento, decisão. “A mão do Senhor estava com ele” significa que João é objecto da benevolência divina e inspira-se no AT, onde exprime a protecção de Deus sobre os seus fiéis e a sua acção sobre os profetas.


Cântico de Zacarias (1, 67-80)

v. 67) O cântico de Zacarias – Benedictus – é análogo ao cântico de Maria, sendo também uma acção de graças pela salvação messiânica e uma visão profética da missão de João Baptista. Aparece como paralelo aos oráculos de Simeão e de Ana sobre a missão de Jesus (2, 29-32). Este cântico Evangélico é cantado habitualmente nas Laudes (Liturgia das Horas), onde bendizemos e damos graças ao Senhor pela vida que nos dá e pelo Seu projecto de Salvação para todos nós.
O Benedictus é composto por duas longas frases de origem grega:
v.69-75 à Acção salvadora de Deus e Sua fidelidade e misericórdia para com Seu povo;
v.76-79 à Missão de João Baptista e anúncio messiânico.

v. 68) “Deus de Israel” é uma fórmula tradicional de bênção no AT. LUCAS é o único a utilizar a imagem da visita de Deus, que representa no AT uma intervenção favorável da benevolência divina ou com o sentido de castigo, mas aqui é uma visita portadora de salvação. O termo “redenção” significa no AT a salvação, a libertação do povo de Deus, mediante um resgate.
v. 69) “Salvador poderoso”, é a força de salvação suscitada por Deus na casa de David. É uma ideia messiânica que ocorre com frequência no AT, onde se anuncia o “Forte”, que será o libertador, o salvador.
v. 70-71) A salvação que é oferecida pela vinda do  Messias realiza a profecia do AT.
v. 72-75) Liga-se à ideia da visita ou da salvação (v. 68-69). Exprime a misericórdia de Deus e o cumprimento da aliança feita com Abraão. Livres dos inimigos, poderemos servir a Deus na santidade e na fidelidade. A salvação é o cumprimento da aliança.
v. 76-77) Referência à missão de João, o profeta que vem para preparar os caminhos do Senhor. João vem oferecer “o conhecimento da salvação”, de como Deus salvará o Seu povo pelo perdão dos pecados.
v. 78) “Sol nascente”, o surgir de um Astro, que na bíblia foi tomado como um título de Messias, que traria a luz (Ml 3, 20), o termo significa também “Rebento” que surge do tronco de David.
v. 79) A luz messiânica vem libertar-nos das trevas e conduzir-nos pelo caminho da paz. A paz é o dom messiânico por excelência.

v. 80) LUCAS encerra a narração sobre João Baptista, antecipando em resumo alguns dados da sua vida futura, anunciando a actividade do Baptista, o Precursor que nos dá a conhecer o caminho que nos pode conduz para fora do deserto do pecado em que nos deixamos ficar, que nos ajuda a ver e seguir a luz do Messias que nos traz a alegria da salvação de Deus Pai. 

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