8 de mar. de 2011

CONCLUSÃO DO SERMÃO DA MONTANHA (Mt 7, 13- 27)


A conclusão do Sermão retoma Mt 5, 19, referindo-se àqueles cujo ensino e prática ridicularizavam os mandamentos divinos. A ideia-chave é: quem ouviu a mensagem de Jesus não pode ficar neutro, tem de se comprometer. Há duas soluções opostas: duas portas e dois caminhos (Mt 7, 13-14), duas espécies de pessoas (árvores de bom ou mau fruto; Mt 7, 15-20), há o dizer e o fazer (Mt 7, 21-23) e duas maneiras de construir ou concretizar (Mt 7, 24-27).  


A porta estreita (Mt 7, 13-14)

A imagem dos dois caminhos mostra a necessidade de escolha com que nos confrontamos, ao acolher o Evangelho. A porta estreita ilustra as exigências e riscos que seguir Jesus nos impõe e como é difícil superar as dificuldades, pelo que tem de ser ter uma grande persistência e fé.

Os falsos profetas (Mt 7, 15-20)

Jesus refere-se aos profetas e ministros que exteriormente parecem mansos e bondosos, mas que, como lobos, apenas pensam na exploração dos fiéis. A imagem dos frutos realça o comportamento do ser humano e os resultados desse comportamento: é bom ser acolhido como profeta, mas é melhor sê-lo como simples discípulo, modelo de fidelidade ao querer de Deus.


O verdadeiro discípulo (Mt 7, 21-23)

A confissão em palavras deve corresponder à obediência total à vontade do Pai. Deus deve ser absoluto na vida do discípulo. Por muito que demonstre a sua fé em palavras, se a sua conduta pessoal não for conforme à vontade de Deus, ouvirá uma sentença de exclusão “naquele dia”, o dia do juízo, no qual se manifestará a glória de Deus.
 
Edificar sobre a rocha (Mt 7, 24-27)

Refere-se a todos nós. Por um lado, há o discípulo prudente que escuta as palavras de Jesus e as põe em prática, e o louco, que escuta mas não age em conformidade. Prever e agir, eis o que implica a vontade do Pai. “Construir a sua casa” é construir a nossa vida sobre Deus, sobre a sua vontade revelada por Jesus.

Autoridade de Jesus (7, 28 – 29)

A admiração da multidão vinha do conteúdo dos ensinamentos e das palavras de Jesus e da autoridade com que o faz, uma autoridade própria que vem de Deus. Esta multidão segue Jesus e verá em actos o poder do Reino que no Sermão foi anunciado em palavras (Mt 8-9).

Um breve olhar sobre o Sermão da Montanha

O Sermão da Montanha tem como linhas fundamentais a revelação do amor do Pai celeste. Quando se é amado, há uma exigência interior de identidade com aquele que nos ama. Somos amados pelo Pai, que é perfeito, logo também podemos ser perfeitos como Ele. É esta a essência do verdadeiro discípulo: “ser discípulo de Jesus é acolher a oportunidade que Ele nos oferece (a graça) de sermos livres sobre o olhar do Amor” (J. Guillet, em Aujourd’hui la Bible). Esse olhar de Deus revela-se a nós próprios, interessando-se sobretudo pelos nossos gestos. Os gestos mais altos, a generosidade, o desprendimento, a busca de Deus, só atingem o seu valor quando o homem renuncia à sua vontade e com a ajuda de Deus descobre o valor dos seus gestos e da alegria que neles deposita. Esta entrega, este amor que liberta exige tanto de nós porque Jesus tem por nós um amor imenso que requer a mesma intensidade no amor que sentimos e vivemos.
O Sermão da Montanha não procura ser uma abordagem intensiva da Lei e dos Profetas, tendo dois objectivos fundamentais: a interiorização da Lei, apelando a que cada um de nós dê um sentido de amor e pureza às atitudes que temos em conformidade com a Lei; a personalização da Lei, procurando na nossa vivência entrar numa relação íntima com Deus. A lei nova é uma experiência da nossa comunhão íntima plena com Deus.

Um comentário:

  1. O Sermão da Montanha revelou-se para mim uma redescoberta de algo que estava esquecido: viver na Lei do Senhor é viver em uníssono com Ele, com a Sua vontade. É esta personalização da Lei na nossa vida que realmente nos ajuda a passar pela porta estreita, a construir a nossa vida sobre bases firmes. De pouco ou nada servem actos vazios, em que se age segundo os preceitos tradicionais do bom cristão, se não pomos o nosso coração em cada gesto que fazemos. No Tempo da Quaresma que se aproxima, podemos procurar a conversão interior e a entrega à vontade de Deus, descobrindo na nossa vontade a vontade do Pai. Descobrir que podemos ser UM só.

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