21 de mar. de 2011

O DINAMISMO DO REINO (Mt 8, 1 – 9, 34)


O dinamismo do Reino é apresentado com os relatos de dez milagres, que podem serem divididos em três séries:
1ª série – Jesus é o servo sofredor que nos salva (Mt 8, 1-17);
2ª série – Jesus convida a segui-l’O (Mt 8, 18 – 9, 13)
3ª série – Jesus obriga a uma opção (Mt 9, 14-34)

***


1ª série – Jesus é o servo sofredor que nos salva (Mt 8, 1-17)

O texto de Mt 8, 1-17 termina a inauguração do Reino que foi anunciada até este ponto no Evangelho. As multidões vêem, nesta secção, o poder do Reino, que tinha sido anunciado em palavras. Este poder de salvação será transmitido posteriormente por Jesus aos discípulos. Jesus socorre os excluídos:
- o leproso, que simboliza os excluídos pela doença, considerada consequência de serem pecadores;
- o centurião, marginalizado por ser estrangeiro;
- a mulher, marginalizada por ser considerada socialmente inferior.
A secção termina com a citação de Is 53,4, indicando que Jesus vêm para tomar as nossas doenças e os nossas dores. Jesus Cristo não só sofre pelos nossos pecados mas, procedendo assim, destrói estes e salva-nos.

Cura de um leproso (Mt 8, 1-4)

A lepra era considerado um castigo divino pelos pecados, pelo que era motivo para exclusão. Ao curar o leproso, Jesus vem abolir a fronteira entre puro e impuro e dar um sinal da sua missão: salvar a humanidade.

Cura do servo do centurião (Mt 8, 5-13)

A salvação de Jesus é para todos: atinge, pela fé, mesmo os pagãos, representados pelo centurião. O louvor da fé do centurião aponta para o que este pressente em Jesus: o poder de Jesus provém do Pai, por isso não é preciso uma deslocação e um toque físico.
Este episódio coloca em contraste a universalidade do Reino e a infidelidade dos filhos do Reino, os judeus, a quem o Reino pertencia, em primeiro lugar. Por isso, Jesus refere o banquete, como uma imagem do juízo final: quem fica de fora são os “não-crentes”, independentemente de fazerem parte ou não do povo primeiramente escolhido.

Cura da sogra de Pedro e outros milagres (Mt 8, 14-17)

A verdadeira salvação é a ressurreição: a sogra “levanta-se” ou “ressuscita” (palavras que têm o mesmo significado na língua original) e a finalidade da Igreja, de quem a sogra de Pedro é sinal, consiste em servir Jesus.

***
A 2ª e a 3ª série focam-se sobre o chamamento de Jesus aos discípulos, que pressupõe:
- A vitória de Jesus sobre o mal (Mt 8, 23-34), representado pela passagem sobre a tempestade e sobre os demónios dos pagãos de Gádara;
- A misericórdia para com os pecadores, representada pela passagem da cura do paralítico (Mt 9, 1-13);
- A novidade do Reino (Mt 9, 14-34): tecido novo, vinho novo, luz aos cegos, palavra aos mudos, e a reacção dos ouvintes.

***
2ª série – Jesus convida a segui-l’O (Mt 8, 18 – 9, 13)

Os três milagres que se seguem estão enquadrados pelos convites de Jesus a segui-l’O. Jesus chama, pois a Sua Palavra governa tanto sobre os nossos corações como sobre os elementos naturais (a tempestade), sobre os possessos e sobre as consciências (o perdão dos pecados).

Tempestade acalmada (Mt 8, 23-27)

O mar era considerado refúgio das forças maléficas. Dando ordem aos ventos e ao mar, Jesus comporta-se como Senhor, a cuja autoridade não escapam as forças da natureza.
O relato da tempestade acalmada reflecte uma imagem da vida da Igreja: os discípulos seguem Jesus na barca-Igreja, nesta celebram o Senhor Ressuscitado com o grito litúrgico “Salva-nos”. A designação “homens” refere-se, em Mt, aos “não-crentes”, atribuída aqui aos discípulos devido à sua pouca fé.

Possessos de Gádara (Mt 8, 28-34)

Gádara era uma povoação da Decápole, situada na Transjordânia, país considerado pagão. Esta intervenção de Jesus apresenta a sua orientação universal para libertar toda humanidade do mal.

Cura de um paralítico (Mt 9, 1-8)

A cura do paralítico invoca a misericórdia, reforçada pela referência a Os 6,6 no chamamento de Mateus, e indica que Jesus nos liberta do mal salvando-nos do pecado.
O v.8 é um indicador de que o poder de perdoar os pecados na Igreja, pelos ministros, vem de Jesus.

Chamamento de Mateus (Mt 9, 9-13)

Através da passagem sobre Mateus, Jesus chama todos os pecadores. A acção desenrola-se em três actos:
1º acto – Chamamento:
O verbo “seguir” mostra-nos que se trata da vocação de um discípulo.
2º acto – Jesus junta-se com impuros:
Cena à mesa, em que Jesus come com pecadores – os publicanos são considerados pecadores, pois recebem impostos para os romanos, aplicando margens de lucro duvidosas (este impostos eram recolhidos em Cafarnaum, zona fronteiriça).
3º acto – Controvérsia:
Surge uma questão dos fariseus (v.11), devido ao escândalo que representava a atitude de Jesus - os judeus não se juntavam com pecadores, pois eram considerados impuros. Jesus responde com um provérbio (v. 12) e com recurso às Escrituras, citando o profeta Oseias (Os 6, 6). Jesus define a Sua missão de chamar os pecadores e de os “curar”. A sua resposta é também um convite feito aos fariseus para ultrapassar o fosso criado entre eles e os pecadores, chamando-os à prática da misericórdia, fonte de bondade divina.

***

3ª série – Jesus obriga a uma opção (Mt 9, 14-34)

Nesta secção, Jesus refere que a adesão a Ele requer uma escolha definitiva, que significa a ruptura com o antigo modo de vida, renascendo para uma vida plena e nova no Reino do pai.

Discussão sobre o jejum (Mt 9, 14-15)

Jesus é o Esposo e o Seu tempo é o tempo messiânico. Durante esse tempo, os discípulos não devem jejuar, mas sentir e celebrar a alegria de estarem com o Senhor.

O velho e o novo (Mt 9, 16-17)

É necessário escolher entre a novidade trazida por Jesus e o “velho” judaísmo. Jesus indica que tem de se escolher entre o Reino que Ele nos anuncia e o caminho anterior seguido pelos judeus. Os dois caminhos não são conciliáveis.

A filha de Jairo e a mulher com hemorragia (Mt 9, 18-26)

Mais uma vez, a condição de impureza não é impedimento à adesão à Jesus. A salvação vem para todos os que têm fé, independentemente da sua condição. A fé é a verdadeira condição de salvação e é por esta que a mulher é salva. Pela adesão a fé em Jesus, despertamos para uma nova vida, assim como a filha de Jairo.

Cura de dois cegos (Mt 9, 27-31)

A misericórdia infinita de Deus salva-nos libertando-nos duma cegueira de coração, em que não reconhecemos Jesus. Abrindo o nosso coração à fé em Jesus, despertamos o nosso olhar para as maravilhas do Reino, vemos tudo com novo olhar.
A razão de Jesus impor segredo aos miraculados pode residir no facto de não querer que os seus actos tenham consequências ou interpretações políticas.

Cura de um possesso (Mt 9, 32-34)

Este episódio serve para mostrar a divisão de opiniões acerca da actividade de Jesus. Com este, Mt encerra a apresentação de Jesus por palavras e acções.
Surgem duas tomadas de posição diferentes face à revelação do Reino:
- as multidões maravilham-se perante a novidade;
- os fariseus rejeitam a novidade, consumando uma ruptura que vai surgir em vários confrontos no decurso dos relatos seguintes.


Um comentário:

  1. A adesão a Jesus como discípulo tem uma acção salvadora em nós, libertando-nos de tudo o que torna a nossa alma doente: o pecado, a falta de compreensão e aceitação dos outros, a falta de fé e confiança em Deus. Mas para sermos verdadeiramente salvos, temos de abandonar definitivamente os antigos preconceitos e ideias que nos conduziam a uma vida fechada em nós mesmos. Aderir a Jesus, fazer parte do Reino de Deus, leva-nos a uma libertação total do passado e o começo de uma nova vida, de um “noivado” com o Senhor, vivido em alegria plena.

    ResponderExcluir