21 de mar. de 2012

II. Ministério na Galileia - Mc 1: Jornada de Cafarnaum e Cura de um leproso

Segue-se uma secção do texto conhecida como “A Jornada de Cafarnaúm”. Compreende os versículos 21 a 39 de Mc 1 e apresenta um dia típico na vida pública de Jesus:

- Jesus reza em comunidade (v. 21);

- Jesus acolhe os que a Ele vêm (v.23, v.31);

- Jesus liberta-os do mal (v.25, v.31, v.34, v.39);

- Jesus ensina (v.21);

- Jesus ora a Deus-Pai (v.35).

Esta jornada mostra que a acção de Jesus interessa a todo o ser humano nas suas dimensões pública (sinagoga) e privada (casa da sogra de Pedro). Esta encerra num pequeno espaço todos os acontecimentos que se darão num espaço maior – a Galileia.



Mc 1, 21-28: Cura de um possesso na sinagoga de Cafarnaum

“Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei.”

A sinagoga era o lugar de reunião da comunidade judaica. Foi o local escolhido por Jesus para iniciar o Seu Ministério. Vem, primeiramente, proclamar o Evangelho ao povo escolhido, trazer a salvação prometida ao povo de Israel.

“Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar. ‘Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.’ Jesus repreendeu-o, dizendo: ‘Cala-te e sai desse homem.’ Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: ‘Que é isto? Eis um novo ensinamento e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!’ E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.”

A proclamação do Evangelho é feita em dois passos: o ensino da Palavra e o acto de cura. Ambos revelam conjuntamente a manifestação da autoridade de Jesus e a proximidade do Reino de Deus: quem acolhe a Palavra encontra a salvação de todo o mal e uma mudança radical na sua vida.



Mc 1, 29-34: Cura da sogra de Simão e outros milagres

Este episódio contém elementos semelhantes ao anterior. No entanto, mostra Jesus trazendo a salvação no domínio privado, através da sogra de Pedro, e depois alarga o horizonte para o domínio público, apresentando Jesus a curar enfermos perto da porta da cidade.

“Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los.”

 Jesus salva-nos pessoalmente e individualmente, tirando-nos da inércia (“tomou-a pela mão”) e de todo o mal que nos põe “doentes” espiritualmente (“febre”), e chama-nos a servir o Reino de Deus. Após ficar sem febre, a sogra de Pedro serve Jesus e os discípulos, serve o Reino.

Também cada um de nós, acolhendo Jesus nas nossas vidas, deixamos a inércia pessoal que nos deixa sem acção, passando a ser missionários e construtores do Reino de Deus.

“À noitinha, depois do pôr-do-sol, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam que Ele era.”

Jesus recusa a revelação feita pelos demónios porque:

- A resposta sobre a identidade de Jesus é um mistério, deve ser segredo;

- Os demónios pretenderiam revelar a identidade de Jesus precocemente, para que a Sua missão fracassasse, pois assim ficaria sujeita a várias interpretações que existiam na altura sobre o Messias que haveria de vir.



Mc 1, 35-39: Retira-se para orar

“De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu, foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: ‘Todos te procuram.’ Mas Ele respondeu-lhes: ‘Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.’
E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.”

Esta passagem faz uma oposição entre cidade e lugar solitário ou deserto. Este é um lugar de retiro, o lugar para o encontro com o Pai, para descobrir a Sua vontade através da oração, para se preparar para passar a outros lugares de pregação. É assim, um lugar de transição. Jesus vai sair de Cafarnaúm e seguir para as aldeias vizinhas.

Jesus ora a Deus, pois quem anuncia o evangelho é enviado por Deus ao serviço das pessoas, logo, a Deus deve buscar conhecimento, iluminação e forças para seguir a Sua missão, e agradecer por toda a salvação que conseguiu levar, reconhecendo-a possível apenas pela fé em Deus. A oração liberta o evangelizador das seduções da fama que a sua missão possa trazer, firmando-o na determinação de servir a Deus.

A jornada de Jesus serve também como um exemplo da jornada de um cristão evangelizador, que partilha da vida da comunidade, que proclama a Palavra levando a salvação a quem precisa, mas nunca esquece o Pai que o ama, o orienta e fortalece na Sua missão.



Mc 1, 40-45: Cura de um leproso

“Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: ‘Se quiseres, podes purificar-me.’ Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: ‘Quero, fica purificado.’ Imediatamente, a lepra deixou-o e ficou purificado.”

Existem algumas traduções em que a palavra “compadecido” é interpretada como “irado”. Na realidade, os leprosos estavam proibidos de se chegarem ao pé de alguém, pois a sua doença era considerada consequência de terem pecado perante Deus. Ao chegar-se a Jesus, o leproso teria desobedecido às leis indicadas por Moisés. Por isso, também Jesus relembra-o de apresentar as suas ofertas de acordo com a Lei, em reconhecimento da salvação que Deus lhe concedeu.

Então, porque Jesus o salva? Porque quer: porque a salvação de todos é a vontade do Pai, e a vontade do Pai e do Filho é uma só e a mesma.

“E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: ‘Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.’
Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.”

A preocupação pelo segredo messiânico continua presente: Jesus proíbe os demónios de revelarem a sua identidade, os miraculados de revelarem os benefícios recebidos e os discípulos de transmitirem certos conhecimentos. O objectivo é o mesmo: evitar que se crie uma ideia errada do Seu messianismo. Este só será verdadeiramente compreendido à luz da Sua Paixão, morte e Ressurreição. A missão libertadora de Jesus dá-se no íntimo de cada pessoa, não sendo um movimento de libertação nacional, como o povo de Israel esperava.



 Porquê o episódio do leproso? O pecado torna-nos doentes, faz-nos mal. Mas podemos purificar-nos do mal e ficarmos “limpos” quando abrimos o nosso coração a Deus, quando vamos ao Seu encontro. Só perante a abertura do leproso é que Jesus o cura.

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