8 de abr. de 2011

O MISTÉRIO DO REINO (Mt 11, 1 – 12, 50)


Esta parte constitui o último de três períodos que integram a apresentação de Jesus como missionário do Reino. O v.1 dá a conclusão do período anterior e introduz o que se tratará adiante: o acolhimento e reacções em relação à mensagem e à missão por parte de João Baptista (Mt 11, 2-15), galileus (Mt 11, 16-24) e fariseus (Mt 12, 1-45).
Estamos perante uma viragem decisiva. Após o Sermão da Montanha e a explicação da missão aos discípulos, Jesus percebe claramente que a sua pregação obriga os corações a manifestarem-se, desenvolvendo o drama e mostrando linhas de solução.

Os dois episódios seguintes são dedicados a João Baptista e englobam duas cenas de um mesmo conjunto:
1ª cena – A resposta de Jesus aos enviados do Baptista;
2ª cena – Discurso dirigido às multidões sobre a personalidade do Baptista.

Jesus e João Baptista

A pergunta de João Baptista (Mt 11, 2-6) – 1ª cena

(v.2) João, preso, ouve falar das obras de Jesus, o que motiva a sua pergunta.
(v.3) A pergunta de João Baptista pretende desvanecer as dúvidas sobre Jesus no que se refere ao seu comportamento, que se opunha com a ideia concebida de que o Messias esperado seria juiz.
(v.4-5) A resposta de Jesus é baseada em Is. 35, 42 e 51, revelando a natureza da salvação que Ele realiza e anuncia, como se verificou nos capítulos precedentes:
- A cura dos cegos, surdos e aleijados evoca Is 35, 1-10, quando este anuncia as maravilhas da salvação final;
- A purificação dos leprosos lembra o milagre de Eliseu;
- As ressurreições remetem a Elias.
Estes profetas citados eram considerados os protectores dos seguidores de João Baptista, por isso Jesus se revela através das profecias destes.
(v.6) Bem-aventurança daqueles que seguem e escutam Jesus, reconhecendo-o como o Messias. Ao ver os sinais, estes não deixarão de compreender os projectos de Deus em Jesus e “não encontrarão escândalo”.

Louvor de João Baptista (Mt 11, 7-15) – 2ª cena

Nesta cena, Jesus mostra a identidade de João.
(v.7-9) O Baptista é um asceta, um perfeito profeta, as multidões conhecem-no bem.
(v.9-10) O Baptista é mais do que um profeta, é o “Elias” que estava para vir, o último mensageiro, que vem preparar o caminho adiante de Deus.
(v.11) Conclusão: O Baptista é o Precursor, pertence aos tempos da profecia; Jesus inaugura o Reino e é a plenitude da Lei e da Profecia. O Evangelho traz uma novidade radical em relação ao AT. Por isso, João é mais pequeno que os discípulos, pois ainda pertence ao fim da revelação do AT. Jesus valoriza João Baptista como o precursor, mas os baptistas insistiam em manter-se segundo o conceito de um Deus severo, pelo que Jesus procura levá-los a compreender a dignidade superior de um Reino que resplandece da Sua ternura.
(v.12) Jesus pode estar a referir-se como “violentos” a todos aqueles que impedem, pelas suas palavras e acções, a entrada das pessoas do Reino, opondo-se a este.

Jesus e os galileus

Exemplos da falta de fé (Mt 11, 16-19)

(v.19) A Sabedoria de Deus, que vem de Jesus, reconhecido justo pelas obras do Baptista e das Suas, foi rejeitada pelas obras da sabedoria deste mundo.
Para aceitar o Reino, é preciso despojar-se de todo o orgulho e de toda a sabedoria do mundo e tornar-se simples.

Lamentação sobre algumas cidades (Mt 11, 20-24)

As cidades do Lago da Galileia são amaldiçoadas porque se imaginam elevadas ao céu, insufladas pela sua “sabedoria” que as impede de reconhecer a verdadeira Sabedoria de Deus manifestada pelas obras e palavras de Jesus.
(v.21-23) Revela-se uma dor profunda pela não correspondência à salvação trazida por Jesus na Galileia. Estas cidades são colocadas em oposição a cidades tornadas tipos de impiedade, como Tiro, Sídon e Sodoma, que teriam correspondido e feito penitência.

As duas passagens seguintes integram o chamado “Hino de Júbilo” (Mt 11, 25-20), um salmo de acção de graças e louvor de Jesus motivada pela revelação dirigida aos “pequeninos” e pela sua aceitação do Reino de Deus.

Hino de Júbilo
Revelação aos humildes (Mt 11, 25-27)
O jugo do Senhor (Mt 11, 28-30)

Esta é, antes de mais, uma oração de louvor de Jesus ao Pai, motivada pela revelação dirigida aos pequeninos.
(v.25) Os “pequeninos” são os discípulos, a quem são revelados os mistérios do Reino. Certas realidades escapam aos sábios e aos inteligentes, como os escribas e os fariseus., enquanto que aos simples são reveladas, pois requerem uma abertura e uma entrega total ao Pai.
(v.26) Este paradoxo entre simples e inteligentes é segundo o “querer” do Pai.
(v.27) Esta é uma das três passagens de Mt em que Jesus exprime de forma indirecta uma relação única com o Pai (Mt 21, 37 e Mt 24, 36). O texto manifesta a consciência que Jesus tinha da Sua filiação divina, atribuindo a si o papel da Sabedoria.
(v.28-30) Jesus chama a si todos os que estão oprimidos sob um peso insuportável, indicando que a sua interpretação da Lei é fonte de liberdade, em oposição aos legalismos judaicos e prescrições dos fariseus. Este assunto vai ser desenvolvido nos confrontos apresentados em seguida.

Jesus e os fariseus

Jesus e o sábado (Mt 12, 1-8)
Cura da mão paralisada (Mt 12, 9-14)

Jesus entra em controvérsia com os fariseus relativamente ao sábado, mostrando a autoridade que tem sobre a Lei. Evidencia a prioridade da misericórdia face ao legalismo farisaico, do qual este episódio das “espigas” e o episódio da cura da mão paralisada são exemplos.
 
Jesus, servo de Javé (Mt 12, 15-21)

(v.15) Perante a rejeição dos fariseus, Jesus parte, mostrando que ainda não tinha chegado a Sua hora. Esta rejeição proporciona o momento de se dirigir aos gentios.
(v.18-21) Mt vê, no texto de Is 42, 1-4, o fundamento profético da missão universal do Messias em favor de todos os povos)

As últimas passagens do capítulo 12 inserem-se numa parte do Evangelho dedicada na procura da resposta sobre a identidade de Jesus. Após esta questão ser abordada no Prólogo, volta a ser colocada nesta parte, onde a identidade de Jesus se revela nos que o seguem e na sua missão, e que irá culminar na confissão messiânica de Pedro, em Mt 16, 13-20. Esta secção desdobra-se em três tempos:
1º tempo – Confrontos com escribas e fariseus, revelando a verdadeira família de Jesus: quem faz a vontade do Pai (Mt 12, 22-50);
2º tempo – Discurso em parábolas, que só a “verdadeira família” de Jesus pode compreender (Mt 13, 1-52);
3º tempo – Jesus a formar a fé dos discípulos (Mt 13,53 – 16,20).

Quem é Jesus? – 1º tempo
Todos os que fazem a vontade do Pai são a verdadeira família de Jesus.

Jesus e Belzebu (Mt 12, 22-32)

(v.28) Os gestos de Jesus são sinais do Espírito de Deus, pondo termo ao domínio do mal e introduzindo em nós a certeza da salvação.
(v.31) Aquele que recusa aceitar os sinais de Deus que Jesus revela, comete pecado contra o Espírito Santo e não tem perdão, pois ele próprio, pela sua cegueira, não quer ser perdoado.

A árvore e os seus frutos (Mt 12, 33-37)

As obras e as palavras determinarão o interior do homem que as manifesta. É um aviso claro sobre os riscos espirituais que todos os que recusavam o Reino corriam e que vai ser de novo salientado em Mt 12, 43-45.

Sinal de Jonas (Mt 12, 38-42)

Jesus refere-se ao sinal de Jonas, quando os fariseus lhe solicitam um sinal. Jesus não pretende responder aos fariseus, querendo referir-se à sua morte e ressurreição. Esse é o maior sinal de que Jesus é o Messias e Salvador.

Riscos de recaída (Mt 12, 43-45)

Esta parábola assenta na crença de que os demónios habitavam no deserto e pretende acentuar a condição de infidelidade da geração “má e adúltera”, que facilmente sucumbe à tentação e de uma forma cada vez mais grave.

A família de Jesus (Mt 12, 45-50)

Este episódio aparece em controvérsia com os fariseus. Jesus opõe a estes uma nova família, cujos laços são de ordem espiritual e radicam na vontade do Pai, pelo que devem ser postos em primeiro lugar.
NOTA: “Irmãos” designava tanto os irmãos, filhos da mesma mãe, como os parentes próximos.

O mistério de Jesus começa a revelar-se: nesta secção, anuncia-se claramente a ressurreição (Mt 12, 40)e juntam-se diversos títulos de Jesus, que andavam dispersos:
- Sabedoria (Mt 11, 19);
- Filho (Mt 11, 25-27);
- Filho do Homem (Mt 12, 8);
- Servo (Mt 12, 18-21);
- Filho de David (12, 23).
As sortes estão lançadas e cada um já optou, notando-se uma divisão entre Israel – geração perversa e Israel – família verdadeira. O discurso em parábolas vai ser a última advertência de Jesus: a colheita está próxima, mas ainda há tempo de escolher o caminho que nos leva para o Pai.



Um comentário:

  1. O orgulho e a soberba afasta-nos de Deus. Quando mais achamos que sabemos, mais perigoso se torna para a nossa alma, pois a compreensão de que somos pequenos e frágeis, faz-nos subestimar os perigos. Quando nos sentimos cheios de nós mesmos, esquecemo-nos que tudo isto vem do Senhor e desligamo-nos d’Ele, pois pensamos que somos auto-suficientes. Só em Deus pode descansar a nossa alma, só n’Ele encontramos a verdadeira sabedoria, pois o que há de bom em nós são dons que o Espírito nos dá e que só podem frutificar pela presença do Paráclito. Por isso, nesta Quaresma, o maior “jejum” que podemos dar ao Senhor é o “jejum” e a “abstinência” do orgulho e da vaidade e, assim, encontrarmos o Senhor novamente no nosso coração, vazio desses maus sentimentos e pronto a ser cheio do Seu Amor!

    ResponderExcluir