23 de abr. de 2011

PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (MT 26-27)


A última secção do Evangelho divide-se em duas partes: o homicídio do Filho do Homem (26, 1 - 27, 56) e a Sua Ressurreição (27, 57 – 28, 20). A submissão total do Filho é a do Senhor manso e humilde de coração (11, 28 - 30), a única autoridade credível, que põe um travão à violência dos poderosos, e pelo imenso amor dá a vida por nós e nos dá a vida eterna.
O relato da Paixão começa com um prólogo (26, 1-16), que prepara o cenário para os acontecimentos que se seguirão, dividido em três tempos: a conjura das autoridades; a unção de Jesus em Betânia; a traição de Judas.

Conspiração dos judeus (Mt 26, 1-5)
Mateus encerra com fórmula semelhante, o discurso do fim (v.1 - “Tendo acabado todos estes discursos…”). A partir deste momento, Jesus deixa de se esconder perante as ameaças e enfrenta directamente o Seu destino. Primeiro, vem a conjura das autoridades, onde os fariseus não estão presentes. Só surgirão num plano doutrinal, aparecendo depois da morte de Jesus, retomando as suas hostilidades dirigidas depois aos primeiros cristãos. A intervenção de Caifás, genro de Anás, sumo-sacerdote e presidente do conselho terá um papel determinante no processo para condenar Jesus.

Unção de Betânia (Mt 26, 6-13)
Simão, o leproso, seria provavelmente, alguém que teria sido curado por Jesus, tendo ficado conhecido pela sua condição anterior. A unção de Jesus tem um valor profético. A mulher pratica uma boa obra que não poderia ser feita noutra hora, pois, segundo Jesus (v.12 - “ela preparou a minha sepultura.”). A unção é o símbolo da profecia sobre o mistério pascal. A reacção depreciativa do gesto da mulher e da reacção de Jesus por parte dos discípulos pode ter sido uma das motivações que terá levado Judas a entregar Jesus.

Traição de Judas (Mt 26, 14-16)
Jesus anunciava que ia ser entregue, segundo o desígnio do Pai. Judas é o instrumento humano deste plano. Porque O terá traído? Será que o projecto de Deus não era aquilo que Judas esperava?
Trinta moedas de prata correspondiam ao preço de um escravo. De acordo com a profecia de Zc 11, 12, o bom pastor é entregue por um preço irrisório.


CEIA PASCAL (Mt 26, 17-35)

O “sangue da Aliança” está no centro do relato da Última Ceia de Jesus. Este recorda o sangue do cordeiro pascal que salvou Israel, marcando o povo do Senhor. O sangue derramado por Jesus, “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, redime o pecado do novo povo de Deus, sendo o sangue da Nova Aliança.

Preparação da Ceia Pascal (Mt 26, 17-19)
A narração da Última Ceia teve lugar no ambiente da Páscoa Judaica, que Jesus teria celebrado com os seus discípulos, como era tradição na altura do ano – Festa dos Ázimos, que durava uma semana, e durante a qual comiam-se pães sem fermento e imolava-se o cordeiro pascal. “O meu tempo está próximo” indica um momento determinado, o tempo da morte e glorificação de Jesus.


Anúncio da traição de Judas (Mt 26, 20-25)
Jesus sabe quem o vai entregar. Os discípulos, pouco seguros de si mesmos, pois representam os futuros cristãos, cuja fé e comunidade ainda estão em crescimento e desenvolvimento, interrogam-se sobre a sua relação com o Senhor. Jesus denuncia o instrumento humano do seu destino, pelo gesto de “meter a mão no prato”, que significa viver em comunhão com alguém, daí a gravidade da traição de Judas, pela relação íntima que tinha com Jesus, ao ser Seu discípulo e, no entanto, traí-l’O.

Instituição da Eucaristia (Mt 26, 26-29)
A narração da instituição da Eucaristia, inserida na narração da Paixão, mostra como Jesus compreendeu a Sua morte. Ele teve plena consciência de derramar o seu sangue para a remissão dos pecados. Para a fé da comunidade, quando se faz o memorial da Ceia, não se trata apenas de recordar ou renovar esta, mas de actualizar o gesto sacrificial de Jesus na cruz e antecipar o banquete escatológico. As palavras “pão” e “vinho” têm de ser ligadas com Aquele que as pronunciou e no quadro da refeição que lhes dá sentido, pondo em evidência a dimensão pascal e sacrificial do rito: v.28 - “sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos”.
A expressão “deu graças” e o correspondente verbo grego “eucharistô”, estão na origem da palavra “Eucaristia”, com que se designa a Ceia do Senhor.
Derramando o Seu sangue na cruz, Jesus conduz a seu termo a Aliança do Sinai, selada com o sangue das vítimas animais. Ao mesmo tempo, Jesus anuncia o cumprimento da Nova Aliança e proclama o valor universal do Seu sacrifício por toda a humanidade. O v.29 refere a dimensão escatológica da última Ceia e exprime a esperança de ter parte na refeição celeste. A morte de Jesus constitui um ponto de partida, encontro oferecido aos crentes que, pelo sangue da Aliança, celebrará o cumprimento final do Reino que o Evangelho anuncia.

Anúncio das negações de Pedro (Mt 26, 30-35)
Jesus recorda aos discípulos que a Sua morte será perturbante para eles, que esperavam o Seu triunfo sobre os inimigos. Mas, no momento derradeiro, vão ter medo, negar Jesus e fugir. Mas este não será o fim. Jesus deixa uma mensagem de esperança: fala-lhes da Sua Ressurreição e aparição futura na Galileia.

Oração de Jesus em Getsémani (Mt 26, 36-46)
Getsêmani significa “lagar de azeite”, e situava-se no Vale do Cédron, no sopé do Monte das Oliveiras. Jesus comunica aos discípulos que tinham sido testemunhas da Transfiguração, que se sentia num estado de tristeza mortal, que lembra a Justo sofredor do Sl 31. Na cena da agonia podemos ver em Jesus o modelo de oração no tempo da tentação (v.41), e a Sua perfeita obediência (v.42): as palavras de Jesus neste versículo não são de resignação, mas de total conformidade com a vontade do Pai. Na oração, Jesus encontra a Sua força para resistir à tentação de fugir do destino que lhe estava reservado, de escolher o caminho mais fácil. Esta oração torna-se um modelo para os discípulos: “”Vigiai e orai, para não cairdes em tentação.” (v.41)



O PROCESSO DE JESUS (Mt 26, 47 – 27, 66)

O processo de Jesus desenvolve-se em duas partes: primeiro, no tribunal judaico, e depois, perante as autoridades romanas, tornando-se um processo perante uma multidão, diante de todo o mundo.

Prisão de Jesus (Mt 26, 47-56)
Perante a atitude de luta física dos discípulos, Jesus afirma a plena autoridade que lhe vem do Pai e a sua total submissão à vontade divina. Em seguida, critica a injustiça e a cegueira dos que o prendiam, distanciando-se de ser tratado como um ladrão ou zelota, e de ser crucificado como tal.

Jesus no tribunal judaico (Mt 26, 57-68)
A primeira acusação levantada contra Jesus é a de querer destruir o templo. Jesus nunca se atribuiu o papel de destruidor do templo. O que Jesus anunciara fora a destruição do templo e do culto judaico, e a sua substituição por um templo novo, o Seu corpo ressuscitado e a comunidade eclesial unificada pela Eucaristia como um só corpo em Cristo. Como esta acusação não avança, vem a segunda. Perante a pergunta “Tu és o Messias?”, Jesus responde de maneira indirecta, anunciando a vinda do Filho do Homem, como personagem celeste e o privilégio do filho de David que deve sentar-se à direita de Deus. Esta resposta é considerada blasfémia pelo Sumo-sacerdote, que não reconheceu Jesus como a realização do Messias esperado, e é o argumento para condenação. Seguem-se as injúrias que cometem sobre Jesus, que assume o destino do Servo de Deus: “Não desviei o rosto dos que me ultrajavam e cuspiam.” (Is 50, 6)

Três negações de Pedro (Mt 26, 69-75)
Pedro, com medo de ser identificado como um dos companheiros de Jesus e de ser preso e de sofrer como Ele, nega o Senhor. Este episódio termina o primeiro processo de uma forma dramática: um dos discípulos, o que antes tinha afirmado que Jesus era o Messias, afirmava neste momento não O conhecer. Ao reconhecer o seu pecado, salvo por um acto de memória crente, segue-se o choro do arrependimento. A queda de Pedro representa toda a queda futura do crente, quando a fé suscita oposições e perseguições. Mas o arrependimento é sempre possível e válido.
NOTA: A palavra “Nazareno” pode querer dizer alguém proveniente da Galileia, mas na intenção de Mateus, poderá referir-se a “nazireu”, o santo de Deus por excelência.

Jesus levado a Pilatos (Mt 27, 1-2)
Apesar de poder emitir sentenças capitais, o supremo tribunal dos judeus só podia executar as sentenças se estas fossem autorizadas pelo governador romano, que naquele tempo era Pôncio Pilatos.

Remorso de Judas (Mt 27, 3-10)
Judas reconhece que entregou sangue inocente, mas devolver o dinheiro não reverte a situação. Os sumos-sacerdotes e os anciãos deixam Judas à sua própria responsabilidade. Lançando as moedas no Templo, Judas vai suicidar-se. O dinheiro é usado para comprar um cemitério para estrangeiros. Mateus insere uma citação (v.9-10) que combina Zc 11, 12-13 com Jr 18, 2-3, Jr 19, 1-2 e Jr 32, 6-15. Esta citação leva a reflectir sobre o significado do sangue derramado por Jesus. A compra deste terreno permite a sepultura honrosa dos estrangeiros, primeiro sinal dos benefícios universais do preço que vale o sangue do Cordeiro.

Jesus perante o tribunal romano (Mt 27, 11-14)
A acusação levantada contra Jesus é levada pelos sumos-sacerdotes e os anciãos para o plano político, procurando torná-la plausível de ser considerada pelas autoridades romanas. A questão de Pilatos está relacionada assim com esta temática, pois se as pretensões de Jesus fossem a realeza, isso contestaria a autoridade romana.

Jesus e Barrabás (Mt 27, 15-26)
A crucifixão era prática habitual dos romanos como sentença naquele tempo. Partindo do hábito da amnistia, o prefeito propõe uma troca entre Jesus e um preso, Barrabás. Por outro lado, a esposa de Pilatos tem uma revelação em sonhos de que Jesus é justo, pedindo que Pilatos não interfira no processo. Os judeus assumiram a responsabilidade pela sua opção de condenar Jesus, preferindo soltar Barrabás, um preso famoso, que poderia ser um rebelde ou preso político. Pilatos cede à pressão, mas desonerando-se da sua responsabilidade sobre a condenação, pelo gesto de lavar as mãos. Segue-se a flagelação, também de origem romana, que era praticada antes da crucifixão, para abreviar os tormentos dos condenados.

Coroação de espinhos (Mt 27, 27-31)
O pretório era a residência do pretor, onde se instalava o procurador romano quando se deslocava de Cesareia a Jerusalém. O escárnio salienta a injustiça do opressor a respeito do justo e do pobre. Ao ser zombado como Profeta e escarnecido como Rei, Jesus enfrenta dois aspectos do Seu processo: o religioso e o político.

A caminho do Calvário. Crucifixão de Jesus. (Mt 27, 32-44)
A tragédia no Calvário tem duas boas novas que equilibram a aparente solidão de Jesus, condenado à morte: Simão de Cirene - colónia grega na costa do norte de África, onde viviam muitos judeus – embora requisitado para levar a cruz, representa os crentes futuros que tomarão a sua cruz para seguirem Cristo; após a morte, as mulheres serão as primeiras mensageiras da Ressurreição, e elas assegurarão a continuidade da fé nas primeiras comunidades.
Começa por ser descrito o lugar da execução, o Gólgota é um nome aramaico que alude à forma do rochedo, de um crânio. Segue-se todas as realidades ligadas ao acontecimento: a bebida recusada, a divisão das vestes, o letreiro com o motivo da pena. A junção do fel tornava o vinho intragável: ao recusar a bebida, Jesus demonstra a Sua consciência e liberdade interior em relação ao que estava a suceder-se. A inscrição no letreiro reflecte o anti-judaísmo de Pilatos e o seu cinismo: o rei que merecem os judeus é o pobre homem pregado na cruz. Mateus corrige esta situação com uma formulação mais solene, propícia à veneração: “Este é o Rei dos Judeus” (27, 37). Após isto, ocorre uma cena de troça, pelos que estavam crucificados, pelos que assistiam à cena, pelas autoridades. O episódio tem por centro o verbo “salvar”, que aparece três vezes e retoma a questão sobre a identidade do Filho de Deus.

Morte de Jesus (Mt 27, 45-56)
As trevas que envolveram a terra representam o juízo de Deus, que se estende sobre a terra a partir da cruz. O grito de Jesus no v. 46 é de dor, não de desespero. O gesto da esponja terá sido por compaixão face à dor que Jesus sentia.
A morte de Jesus é relatada num breve versículo (v.50). O Seu grande grito resume a oração dos salmistas. E, assim, Jesus “deixou partir o espírito”.
O facto do véu do templo ter-se rasgado pode ter dois significados:
- Se o véu do templo é a cortina que separava o pátio do templo propriamente dito, então a morte de Jesus permite o acesso dos pagãos à presença de Deus;
- Se o véu do templo é a cortina que separava o lugar sagrado do Santo dos Santos, então a morte de Jesus significa o fim do sacerdócio da Antiga Aliança.
Os santos que voltam à vida seriam os justos e os profetas, cujo sangue foi derramado antes do de Jesus.
O v.54 surge na perspectiva dos frutos da vida futura que a cruz semeou: a confissão de fé dos pagãos, representados pelo centurião e pelos que estavam com ele: “Este era verdadeiramente o Filho de Deus!”
Mateus menciona as mulheres, que não fugiram, e entre elas a mãe dos filhos de Zebedeu, que tinha pedido que os seus filhos ocupassem os assentos à direita e à esquerda de Jesus no seu Reino e que, na crucifixão, viu dois ladrões a ocuparem os lugares à direita e à esquerda de Jesus.



Sepultura de Jesus (Mt 27, 57-61)
A insistência sobre a sepultura pretende sublinhar a realidade da morte de Jesus. A sepultura realiza-se por iniciativa de José de Arimateia, que obtém autorização de Pilatos. José seria rico e influente o suficiente para conseguir essa autorização, mas Mateus refere-o sobretudo com um verdadeiro discípulo do Senhor.
O sepulcro é sóbrio e, ao mesmo tempo, cheio de veneração. A colocação da pedra grande assinala o poder definitivo da morte. Finalmente, as mulheres velam o corpo.

O sepulcro guardado (Mt 27, 62-66)
O dia da Preparação era a sexta-feira, dia em que os judeus preparavam a celebração do sábado. A suspeita dos sumos-sacerdotes e dos fariseus são eco da polémica entre judeus e cristãos por causa da hipótese do roubo do corpo do Senhor. Ao garantir-se a vigilância do sepulcro, responde-se à objecção dos judeus quanto à Ressurreição.

4 comentários:

  1. Senhor, graças vos damos pela vida que deste por nós e pelo Teu Sangue, que nos abre o caminho para uma vida nova. Louvado sejas pelo Teu imenso Amor, e que as nossas mãos, o nosso sorriso, a nossa voz, os nossos pés, a nossa inteligência, o nosso espírito, todo o nosso ser, seja presença e vontade plena do Teu Pai e sirva o Seu Reino.

    A todos vos desejo uma Santa Páscoa abençoada pela presença de Cristo ressuscitado!

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    Ao seu dispor
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    EDIÇÕES VIERIA DA SILVA

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